A Economia de Xi

O escalar dos confrontos entre China e EUA tem ganho uma nova dimensão ultimamente. Nas últimas semanas o EUA baniu as apps Chinesas TikTok e Wechat, impôs sanções a 11 líderes de Hong Kong e enviou um representante para Taiwan. Este aumento de pressão sobre China reflete o aproximar das eleições americanas. Tomar uma posição mais firme perante China sempre foi um dos pontos fulcrais na campanha do Presidente Donald Trump. A administração de Trump baseou-se na premissa de que usando uma abordagem mais assertiva com China iria gerar resultados porque considerava que China tinha um capitalismo de estado mais fraco do que parece, e por isso iniciou uma guerra comercial.

A lógica era ilusoriamente simples. Resumindo, a China crescia mais rápido, mas só porque dependia de uma fórmula de dívida insustentável, subsídios, roubo de propriedade intelectual e exportação. Por isso, basta pressionar o suficiente para cederem a concessões e eventualmente liberalizar o sistema político. Simples, mas errado. O aumento das tarifas causou menos impacto que o esperado e a economia chinesa mostrou ser bem mais resiliente face ao Covid-19, o FMI prevê um crescimento de 1% para China em 2020 comparado com uma queda de 8% para o EUA. O mercado de ações de Shenzhen vai ter o melhor desempenho este ano e não Nova Iorque.

A nova agenda económica do Presidente Xi é melhorar as condições do mercado e criar espaço para inovação. Não é nenhum Milton Friedman mas esta mistura de autocracia, tecnologia e dinamismo pode conduzir a crescimento por vários anos. Desde 1995 a percentagem de China no PIB mundial a preço de mercado aumentou de 2% para 16%. Sillicon Valley considerava as empresas tecnológicas Chinesas como meros imitadores, Wall Street afirmava de que cidades fantasmas com apartamentos vazios iria gerar uma crise bancária, os analistas de estatística suspeitavam de os números do PIB eram manipulados e os especuladores avisavam de que transferências de capital iria gerar uma crise monetária. China venceu todos esses céticos porque o seu capitalismo do estado adaptou-se, mudando de forma. Por exemplo, há 20 anos o foco era exportação, mas atualmente a exportação representa apenas 17% do PIB. Nos anos que sucederam a 2010 China criou espaço para as gigantes tecnológicas como a Baidu, Alibaba, Tencent crescerem. 

Aproxima se agora uma nova fase sob a liderança de Xi. Desde que Xi foi eleito presidente em 2012 o ponto fulcral na agenda económica foi tornar a economia Chinesa mais forte e resiliente face a ameaças. Primeiro, ter um maior controlo sobre ciclos económicos e a dívida. Ao contrário da resposta à crise financeira de 2008-2009, os incentivos económicos face ao Covid-19 representaram apenas 5% do PIB, menos de metade dos incentivos económicos de EUA. Segundo, uma administração estatal mais eficiente com regras uniformes. Já é possível criar uma empresa em apenas 9 dias, existe uma abertura cada vez maior do sistema financeiro facilitando a entrada de instituições financeiras estrangeiras e prevê-se que mais medidas do género surjam para gerar um impulso gradual na produtividade. O último elemento é tornar o papel do estado cada vez mais invisível nas empresas estatais. Pretende-se que as empresas estatais se tornem cada vez mais competitivas e possam aumentar os retornos financeiros, mas também se antevê aquisição de participações estratégicas em empresas privadas. Existe um foco cada vez maior em setores onde China é ainda muito dependente de importação ou tecnologia estrangeira como por exemplo semicondutores e baterias.

A economia de Xi tem resultado a curto prazo, a dívida desacelerou perante o Covid-19 e nem a pandemia nem a guerra comercial levou a uma crise financeira. Mas a longo prazo, só o tempo dirá.

O que ficou claro é que a estratégia de EUA não resulta. Ao contrário da União Soviética, China tem uma economia sofisticada e bem integrada com o resto do mundo. Ao invés da pressão económica, que em última instância os mais prejudicados são as empresas e os consumidores, o EUA e os aliados deviam reforçar a capacidade diplomática para criar regras estáveis que permitam cooperação em certas áreas com a China como por exemplo as alterações climáticas e pandemias. Não se pode simplesmente ignorar a força de uma economia que vale 14 triliões de dólares americanos.

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