Almoço grátis?

Os líderes da União Europeia chegaram a um acordo histórico na semana passada sobre um plano de estímulo massivo para as economias afetadas por Covid-19, após uma longa sessão de quase 5 dias.

O acordo abre caminho para a Comissão Europeia angariar até 750 bilhões de euros nos mercados de capitais em nome de todos os 27 estados, um ato sem precedentes em quase sete décadas de integração.

Este acordo vem não só aliviar as economias europeias prejudicadas pelo Covid-19 mas também reforçar a credibilidade na própria União Europeia.

Apesar de ser um acordo há muito esperado e os governos poderem gastar mais, estas oportunidades apresentam também grandes riscos.

Muitos consideram de que os governos falharam a repensar nas políticas económicas após a crise financeira de 2007-09. Ninguém dirá o mesmo do Covid-19, a pandemia tem levado os governos a ativar medidas impensáveis em meros meses e com ela a uma profunda mudança na economia.

O grande desafio que se segue consiste na exploração de oportunidades e ao mesmo tempo conter os enormes riscos decorrentes de um nível superdimensionado de intervenção do Estado nos mercados económico e financeiro.

Esta abordagem tem quatro características. A primeira é a escala dos empréstimos, nunca houve tamanhos empréstimos por parte dos governos como as que estamos a presenciar, parecendo quase um cofre sem fundo. O FMI estima de que somando todos os países ricos, representam um empréstimo total de 4.2 triliões de dólares americanos, o equivalente a 17% do PIB agregado dos mesmos.

A segunda é o zumbido infindável das impressoras. Só em 2020, Estados Unidos, Inglaterra, Japão e Zona Euro já criaram reservas avaliadas em 3.7 triliões de dólares americanos, grande parte dele usada para adquirir dívida pública. O resultado será baixas taxas de juro a longo prazo enquanto a emissão de dívida pública amontoa.

O crescente papel do Estado como diretor executivo de distribuidor de capital é a terceira característica. A Reserva Federal e a Tesouraria, em conjunto, detêm 11% de toda a dívida comercial dos EUA.

A última característica, mas não a menos importante, baixa inflação. A ausência de pressão na subida dos preços significa de que não existe necessidade imediata de crescimento gradual no balanço dos bancos centrais ou necessidade em aumentar as taxas de juro a curto prazo. Como tal, a dívida pública tem um custo muito baixo, tão baixo que é quase como um almoço grátis.

Todas estas características representam o culminar de uma nova tendência, o Estado passa a ser a “mão invisível” com uma intervenção cada vez mais profunda na economia e o mercado financeiro. E apesar de o Estado ter um papel mais ativo na economia poder criar muitas oportunidades e uma política expansionista criar estímulos económicos, estas podem também apresentar graves riscos.

Um dos riscos predominantes neste tipo de gestão económica é a criação de oportunidades infinitas para os políticos. Já tem tanto poder de decisão sobre as taxas de imposto a aplicar, quais os trabalhadores que recebem benefícios e em breve, quando o empréstimo ao setor privado chegar a níveis insustentáveis, o Estado irá decidir quais as empresas a falir.

E embora as políticas expansionistas poderem constituir um estímulo a curto prazo, a longo prazo são insustentáveis e criam distorções no mercado que levam o seu tempo a reajustar, e, por conseguinte, a um baixo crescimento económico.

O principal tema de discussão para os políticos é focar na criação de uma estrutura que permita a gestão do ciclo económico e a crise financeira sem se apoderar da economia. Caso contrário, iremos todos pagar caro por este almoço.

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